Por Pe. Roberto Gottardo, SJ
No período de 22 de março a 13 de abril a Paróquia São Virgílio foi agraciada com a visita oficial do Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, Dom Wilson Tadeu Jönck, SCJ. Sem dúvidas, foram dias felizes e inesquecíveis para os fiéis das nossas comunidades eclesiais. Nas suas intervenções repetia o “refrão” de que é importante lembrar das coisas essenciais da vida porque nós, os humanos, tendemos à acomodação e à frouxidão. A tendência a sermos mornos é real e as consequências podem ser trágicas (cf. Ap 3,16).
A rotina revela o pior de nós. Por isso, de vez em quando uma chacoalhada faz bem, particularmente, no universo religioso, que facilmente descamba para a mesmice e para o tradicionalismo tacanho. Há muita anemia espiritual por aí. Há muita reza e pouca libertação também. Às vezes, cultua-se a morbidez do “deus morto” e se teme o Deus da Ressurreição. Sem nenhuma pretensão de apontar todas as oportunas e necessárias reflexões do nosso Arcebispo, quero fazer pequeno elenco de alguns pontos, cuja insistência dele nas reuniões com as lideranças demonstra a preocupação da Igreja para com aquilo que é irrenunciável na vida pastoral de uma comunidade cristã.
Em todas as reuniões, Dom Wilson lembrava do miolo da vida cristã: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas” (cf. Mt 6,33). Perguntava: “Qual o primeiro mandamento?”. Não se pode abrir mão da centralidade dos ensinamentos de Jesus e da “fé que opera na caridade” (cf. Gal 5,6). A igreja de pedra, o salão comunitário, as Pastorais, os Movimentos, etc. só tem sentido se favorecem o florescimento da vida cristã da comunidade, como lugar onde se visibiliza o milagre do reino de Deus acontecendo.
Neste sentido o CPC (Conselho Pastoral da Comunidade) de cada capela tem papel importantíssimo na gestão da comunidade. O acento está no termo “Pastoral”. Cabe ao CPC pensar e orientar as atividades da comunidade em comunhão com o pároco. Deve fazer reuniões regulares e registrar as decisões em ata. Foi-se o tempo dos valorosos “fabriqueros” cuja preocupação era apenas em construir e organizar as festas como se a capela fosse pequena empresa capitalista. Os sentidos de todos os membros do CPC devem estar focados na vida pastoral da comunidade. Cabe também ao CPC a responsabilidade de identificar as limitações/problemas e apontar soluções.
A Igreja do Brasil está apostando alto na Iniciação à Vida Cristã (IVC). As paróquias que constituem a Arquidiocese de Florianópolis devem estar em sintonia procurando ser “um só coração e uma só alma” (cf. At 4,32). É fato que a maioria dos cristãos foram apenas batizados, mas não são evangelizados. Alguns estão incomodados com as mudanças. É próprio do evangelho desinstalar e incomodar. Infelizmente, em muitas situações, o divórcio entre a fé professada e o comportamento das pessoas é deprimente. A IVC intenciona corrigir essa mentalidade superficial e, muitas vezes, viciada da vida religiosa fundada no sacramentalismo e no devocionismo inconsequentes. Quer-se, sim, pessoas apaixonadas por Jesus Cristo e comprometidas com os valores do Evangelho. As crianças necessitam da família e do testemunho dos adultos para aprender a viver segundo o desejo de Jesus. O exemplo arrasta.
O Dízimo, mandamento bíblico, deve ser praticado como como expressão de uma fé adulta, responsável e livre. Dizimo é essencialmente ato de fé. Não é uma taxa que se “paga” (evitar usar esse verbo) para se ter “direitos”. Dom Wilson insistiu que o Dízimo deve custear todos os gastos ordinários da comunidade. A contribuição deve ser mensal porque as despesas são mensais. Para cobrir os gastos com despesas extraordinárias (por exemplo, a reforma da capela) se faz promoções, festas, etc. Porém, cuidar para que as festas não promovam vícios, escândalos e prejuízos à vida cristã. Em alguns casos reprováveis, as bandas têm levado parte substancial dos lucros. Cuidar para que essas aberrações não se repitam.
Cultivar a compreensão da Igreja como Corpo de Cristo. É realmente muito importante aprendermos a viver em comunidade com espírito de “comunhão e participação”. O individualismo que grassa no mundo de hoje é nocivo e antievangélico. As nossas trinta capelas (incluindo a Matriz) constituem a Paróquia São Virgílio. A Paróquia São Virgílio, por sua vez, associada às outras 70 Paróquias, constituem a Arquidiocese. Não somos ilhas isoladas e autossuficientes. A Igreja é povo de Deus organizado, Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,27). A nossa força, enquanto Igreja, está no poder da união e no amor que deve cimentar todas as relações.
O Arcebispo reiterou nas reuniões que o Governo vê e trata a Igreja como se fosse mais uma empresa. Por isso, os rigores da legislação estão sendo aplicados sem dó nem piedade, e de modo sistemático. A voracidade do Governo para dinheiro (impostos) é absurda, e a eficiência para fazê-lo beira à perfeição. Não há mais possibilidade para práticas ingênuas baseadas nas boas intenções. Cuidar da documentação das compras e vendas (notas válidas); a transparência nas transações financeiras deve ser o modus operandi de todas as lideranças.
Não podemos esquecer de que a Igreja “existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição” (Papa Paulo VI). Porém, o princípio e fundamento da missão de todo batizado deve se inspirar nas palavras de Jesus: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando… E o que eu vos mando é que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo 15,14;13,34).