Por Pe. Gottardo,SJ
Deus ordena: “Consolai, consolai o meu povo” (cf. Is 40,1). O ministério da consolação é um baita desafio para todo servidor do Reino e a principal missão da Igreja. É uma urgência. São tantas as dores e as angústias que açoitam a alma do povo que é praticamente impossível delimitar! É uma necessidade premente que mais pessoas se comprometam em consolar o povo de Deus. Há muita indiferença e omissão no mundo. Onde estão os profetas!?
É muito fácil, em meio à degradação cultural reinante nos sentirmos “especiais” por causa da nossa suposta religiosidade, bondade e ética cristã. Atitude perigosa e inconsequente, muito cara aos fariseus. As tentações são inúmeras porque infinito é o número dos estultos (cf. Ecle 1,15). Ai dos acomodados e dos sonolentos! Não são poucos aqueles/as que desenvolvem a doença da esclerocardia regida por moralismos e hábitos mundanos, que matam a misericórdia e desdenha da ação libertadora do evangelho.
Consolar era a missão precípua dos profetas. É também a missão de cada um de nós, batizados. O mundo está cheio de corações dilacerados e necessitados de consolo, quase sempre vítimas deste sistema pecaminoso e corrompido que oprime a alma, mata a esperança e aflige o ser humano; sem mencionar ainda os efeitos perversos da violência. Mas para estarmos capacitados para esse ministério, precisamos ser preparados (estudo, oração e comprometimento) e nos sentirmos consolados pelo Consolador. Um cego não tem condições de guiar outro cego (cf. Mt 15,14).
A preparação custa um alto preço, pois, se queremos de fato trazer alívio às pessoas, nós também precisamos passar por um processo de cura (quem não tem pecado…) e fazer-nos solidários com aqueles que padecem dores, são humilhados e derramam lágrimas em profusão. A vida dos sofredores deve se tornar uma espécie de escola onde aprendemos a arte divina de consolar. O médico Divino se serve de nós para prestar os primeiros socorros aos crucificados da história. Geralmente, custa-nos compreendermos a ciência da cruz e o sentido das tantas provações.
Temos via de regra a tendência de inventarmos culpados para justificar os nossos fracassos. Impotentes e sem imaginação inventiva nos perdemos facilmente nas lamúrias e nos afundamos no mar da amargura. Às vezes, ao invés de consolar tornamo-nos arautos da desolação e sinal de escuridão. Então o que deveria ser um instrumento de bênção e de luz se torna uma fonte de mágoa, angústia e dor. Ao invés de proximidade, empatia e cura, frustra-se ainda mais aqueles que precisam de consolo.
No entanto, se deixarmos de olhar para nós mesmos e deixarmos Deus tratar das nossas feridas, teremos mais facilidade de nos aproximarmos do “samaritano” caído (cf. Lc 10,25-37) e acudi-lo, sem escrúpulos. Então podemos contar-lhes as nossas experiências de ter sido consolados e ajudá-lo a se levantar. Fazê-lo significa devolver o bálsamo que Deus usou a nosso favor.
São Paulo afirma que “Deus nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em dificuldades, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus” (cf. 2Cor 1,4). Então bendiremos a Deus pela graça da cura e por nos ter tornados capazes de consolar os outros. A experiência de consolar é vital para penetrarmos no coração de Jesus e captar toda a riqueza das Bem-aventuranças (cf. Mt 5,3-12). Consolai, pois! Aí está um excelente meio para vivenciarmos o tempo do Advento do Senhor.