Por Pe. Gottardo,Sj
(1) Se levardes em conta nossas faltas, quem haverá de subsistir? (cf. Sl 129). Sem dúvida, esta pungente indagação do salmista é válida para todos os tempos e lugares como critério de reflexão acerca da impostação que estamos dando à vida. Dá o que pensar. Certamente, pulsa na alma do sábio a triste realidade: a infinita misericórdia de Deus que, ao invés de encontrar entusiasta acolhida da parte do seres humanos, confronta-se com o deserto da indiferença, da ingratidão e do fechamento. É a “divina comédia” humana.
(2) Às vezes, para justificar o injustificável, usa-se e abusa-se da misericórdia de Deus. Podemos desdobrar a arguta questão levantada pelo sábio bíblico em tantas outras perguntas. Via de regra, a maioria das pessoas religiosas, imaginam bastar frequentar o templo e praticar algumas devoções que está garantida a salvação. Ledo engano. Não estaria aí a raiz secreta de tanta mediocridade na vivência da fé e de tanta anemia espiritual?! Em geral, as pessoas preferem navegar em águas rasas e já conhecidas.
(3) Há pessoas que nutrem ódios figadais com vizinhos, familiares e/ou com membros da própria comunidade que, ao invés de erradicá-lo com a exigente prática do perdão, fogem e vão participar do culto/missa em outras igrejas/santuários e sem nenhum escrúpulo entram na fila da comunhão e vão comungar. Sim, e aqueles/as que flertam com o espiritismo e com outras doutrinas estranhas à fé cristã, momo se Deus fosse um ídolo a quem se pudesse engambelar. Ai de vós, hipócritas!
(4) Quantos poderiam prestar excelentes serviços à comunidade eclesial porque, além de credibilidade têm conhecimento e tempo, mas se esquivam inventado toda sorte de desculpas e mentiras! Quantos “nãos” Jesus recebe todos os dias! E os insultos!? Muitos fingem-se de “surdos” ao chamado de Jesus. Quanta omissão! Quanta cegueira! São faltas graves e clamorosas. Enquanto isso o Reino padece violência e deixa de frutificar.
(5) É fato que para muitas pessoas “religiosas” a ignorância é sinônimo de felicidade e/ou como diz o historiador Leandro Karnal: “a ignorância é uma benção”. Porém, Ignorantia legis neminem excusat (“a ignorância da lei não desculpa ninguém”). Vive-se uma religião de fachada quando não legalista e descolada da vida. Ostenta-se belas frases/símbolos religiosos nas camisetas, nas casas e nos automóveis, mas as atitudes de muitos continuam sendo demoníacas. O apóstolo Tiago lembra que “os demônios também creem” (cf. 2,19), mas não seguem os ensinamentos de Jesus.
(6) Quantos “bacanas” buscam a igreja como se fosse um mercado, ou seja, buscam-na apenas nos momentos críticos e emergenciais da vida; outros, apenas por interesse em receber os sacramentos; há ainda os farsantes, ou seja, aqueles religiosos “nominais” que além de não agregarem nada à comunidade espalham a cizânia da divisão e da idiotia. Pior: sabotam e sentem alergia a qualquer vento de renovação. São Paulo adverte: “Não vos iludais: de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá” (cf. Gal 6,7).
(7) Há uma ação demoníaca deveras palpável e comezinha que atinge cruel e duramente àquelas pessoas que se dispõe a servir o Reino com o coração aberto e alegre. É a maledicência e a crítica corrosiva e covarde daqueles que tenazmente se recusam a arregaçar as mangas. E como são agressivos, invejosos e arrogantes! Haja fé para permanecer firme na missão! É preciso ter muita intimidade com o Senhor para suportar os vômitos de Satanás. Não foi à toa que Ele advertiu os discípulos: “Se o mundo vos odeia, sabei que, antes de vós, odiou a mim” (cf. Jo 15,18).
(8) Há também aqueles/as que assumem atividade pastorais como se fizessem um “favor” à Igreja. Uma vergonha! E aqueles/as que fazem apenas para inflar o ego e para aparecer. E os murmuradores de plantão? Realmente, “se levardes em conta, Senhor, as nossas faltas, quem haverá de subsistir?”. No entanto, em meio às montanhas de cascalho há pérolas, há pessoas que rezam, trabalham e se comprometem efetivamente com a construção do Reino de Deus. São os tesouros da Igreja. Essas fazem a diferença.
(9) Falta-nos consciência. Falta-nos fé. Falta-nos amor. Falta-nos contrição verdadeira. Falta-nos o sincero arrependimento. Falta-nos a compunção de coração. Falta-nos a “dor e a vergonha” dos nossos inúmeros pecados. Numa palavra: falta-nos “vergonha na cara” (cf. Dn 9,7). “Muitos se portam como inimigos da cruz de Cristo – e da Igreja -, cujo destino é a perdição, cujo deus é o estômago, sua glória está no que é vergonhoso…” (cf. Fil 3,18-19). E assim muitos vão vivendo quais cabritos! Como vão se apresentar diante de Deus no dia do justo Juízo?! This is question.