Por Pe. Gottardo,SJ
Ao enviar os discípulos a missionar Jesus os instruiu com recomendações práticas e bem objetivas: “Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho” (cf. Lc 10,4).
Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, gostava de espairecer o juízo percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores das “lojas” o assediava, respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”.
Jesus exige liberdade e leveza dos seus seguidores. É condição de possibilidade para viajar e seguir o caminho do evangelho. Levar apenas o essencial… Na lógica da economia arte é multiplicar os bens, ter/possuir sempre mais; na lógica da espiritualidade cristã arte é repartir e ter sempre menos.
No anúncio do Reino é importante ser respeitoso e não impor nada a ninguém. Respeitar implica em não ser um fardo pesado (cruz) para ninguém. O teólogo Marco Pedron nos ajuda a compreender o significado do respeito.
Respeito (do latim respicio) significa olhar para trás, equivale ao exercício de andar pelas montanhas: de vez em quando é bom olhar para trás para ver se os companheiros estão bem e/ou se estão passando por dificuldades; se não forem vistos, é preciso esperá-los e/ou procurá-los.
Respeitar significa levar em consideração o outro com suas necessidades, o que pode ser muito diferente das minhas.
Respeitar significa não praticar a violência, não viver enganando os outros e na falsidade.
Respeito significa aceitar as escolhas dos outros, mesmo que não estejam em conformidade com as minhas expectativas.
Respeitar significa reconhecer o direito à vida de toda criatura.
Respeitar é aceitar que eu também faço parte do processo evolutivo da criação de Deus. O sol, as plantas, as ervas, a água, os animais, etc. são criaturas do mundo e de Deus: respeitá-las é preciso para o equilíbrio da Casa Comum.
Abandonar um cão (em casa, por exemplo) porque se está de férias chega a ser cruel; bem como maltratar outros animais, jogar lixo em qualquer lugar, atirar latas de cerveja no asfalto, etc. É falta de respeito e falta de educação também.
Tudo o que existe merece respeito pelo simples fato de existir.
“Paz a esta casa!”. Pedron lembra que Paz (shalom em hebraico) indica tudo o que o ser humano precisa para o bem viver: paz, plenitude de vida, bem-estar, felicidade, alegria, etc. Em grego, eirene (tradução de shalom) indica bem-estar e tranquilidade, onde não há conflito nem desamor. O termo latino pax, paz, vem da pacisci que significa conduzir negociações, concluir um pacto, fazer contrato. A paz acontece quando se estabelece regras consensuais e comuns.
Se a pessoa está sempre em guerra consigo mesma, onde quer que esteja haverá violência. Há pessoas que não têm paz interior, não estão pacificadas, estão sempre cheias de raiva e de agressividade; há uma guerra permanente em suas entranhas. Essas pessoas são “uma sarna” que produz coceira em todos.
Uma flor não precisa propagandear seu perfume, sua fragrância difunde-se por si mesma. “Bonum est diffusivum sui”. Assim somos nós. Se temos paz interior onde quer que estejamos exalamos o bom perfume da paz e do equilíbrio. Se estamos em guerra, produzimos estragos terríveis e deixamos escombros e uma triste memória por onde passamos.
Um jornalista, encantado com o estilo de vida de Madre Teresa, escreveu: “Com ela sentia-me em casa. Difundia-se nela uma aura de paz em tudo o que ela dizia e fazia. Era como entrar numa dimensão em que brigas, conflitos, competições, comparações, raiva, etc. não existem“.
Por fim, Jesus vibra com o sucesso dos discípulos no desempenho da missão a eles confiada, mas corrige-os em tempo: “Não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos nos céus“ (cf. Lc 10,20).
Nós passamos e nossos nomes serão esquecidos. Cinquenta anos depois da nossa morte (talvez cem) ninguém mais se lembrará de nós. Os nomes escritos na terra desaparecem, mas os nomes escritos no céu permanecem para sempre. Estão protegidos e salvos; estão na palma da mão de Deus, ninguém consegue arrancá-los.
No coração de Deus, nenhum nome cai na tumba do esquecimento. No coração de Deus há espaço para todos os seus filhos/as desde que não Lhe sejamos surdos, indiferentes e incrédulos. “Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá” (cf. Gl 6,7).