“A felicidade não está apenas dentro de nós nem fora de nós, mas sim em nossa união com Deus” (B. Pascal).
Indubitavelmente, Jesus foi e continua sendo um revolucionário extraordinário. Suas palavras ardem e perturbam porque fustigam as mentalidades empedernidas. À Luz das Bem-aventuras de Lucas (cf. Lc 6,20-26), podemos afirmar que não é justo que alguém tenha alimento em abundância enquanto muitos morrem de fome. Ai de vós, ricos, que fingem não ver e/ou não saber que milhões de pessoas são humilhadas pela política da exclusão social e da concentração de renda, e milhões de crianças morrem por causa das injustiças.
Não é justo que vocês, ricos, se banqueteiam, se divirtam e esnobam, rindo das desgraças dos pobres e dos sofredores. Ai de vós, ricos, porque Deus faz e fará justiça e não terá misericórdia com quem não usou de misericórdia. “Pobre”, segundo M. Pedron, são as pessoas necessitadas e vulneráveis; são as pessoas que imploram ajuda de Deus e dos homens. O “rico” via de regra não necessita de ninguém.
É impossível seguir os ensinamentos do profeta de Nazaré e todos elogiarem; quem serve o Reino buscando recompensa e/ou interesses submete-se às expectativas do mundo, assemelham-se ao camaleão que se adequa a tudo para fugir dos embaraços e dos conflitos. Jesus não endossa o infantilismo: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (cf. Lc 9,62).
Quem assim procede vende a própria alma e o cérebro a Satanás. O cristão que se comporta assim está sabotando a força revolucionária do evangelho, está negando Jesus e adulterando a Palavra de Deus. O medo do comprometer-se com as exigências do batismo é pecado grave! E as mentiras que inventamos para não fazê-lo!? Via de regra os “ricos” gostam de ser servidos e não de servir.
Talvez o projeto de Jesus possa parecer irrealizável, mas se trata de projeto sobre o qual todos devemos nos confrontar e nos olharmos no espelho, e ver até que ponto somos sinceros e verdadeiros conosco, e até que ponto somos radicais e autênticos com a verdade que professamos. Se o evangelho de Jesus não arder na consciência está sendo falsificado.
Com a proclamação das Bem-aventuranças torna-se claro que Jesus desejava mudar o mundo, a ordem social vigente do seu tempo. O problema é que, por medo, má intenção e/ou por cumplicidade, tendemos a adocicar o poder libertador da mensagem do evangelho. Jesus trabalhou intensa e incansavelmente para instaurar o reino de Deus nesta terra, e não para depois da morte. Pagou caro por isto. Sua Palavra continua ardendo…
Nosso maior pecado é termos o coração de rico, ou seja, não confiarmos em Deus, mas apenas nas nossas forças e nas ideologias de plantão. Pior: imaginarmos que somos deuses. Por isso, não apenas nos tornamos cúmplices das injustiças, mas hospedamos e damos guarida ao Maligno em nós. Dom Helder Câmara reagiu àqueles que têm preguiça de pensar: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo; quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.
“Felizes, vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!”. É o desejo de Deus que todos seus filhos/as vivam e saboreiem todos os dias a alegria de ser feliz. No entanto, ser feliz não se confunde com consumismo nem com o acúmulo de coisas. “Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia” (Gandhi). A felicidade é o caminho, não a meta; é saber “curtir” o tempo presente. No Paraíso não haverá lugar para quem não soube viver na terra.