Por Pe. Gottardo,SJ
É verdade. O tempo escapa. É ligeiro. Foge. Deixa suas marcas indeléveis. “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa… Quando se vê, já terminou o ano” (Mário Quintana). Quando se vê está na hora de arrumar as malas e fazer as mudanças. Tudo passa. Por mais que doa e cause embaraços, mudar é – e deve ser – a lei da vida. Não mudar é fatal; é correr o risco de se tornar um fóssil, ou melhor, um cadáver ambulante.
Foi pensando precisamente na minha iminente transferência (a partir do dia 2 de fevereiro sigo para outras paragens) que resolvi oferecer aos membros dos novos CPCs das comunidades, um momento de formação sobre a finalidade do CPC (Conselho de Pastoral da Comunidade). Foi o que realizamos, ontem (13), com devotada confiança e alegria. O contexto de tantas celebrações, encerramentos das atividades de 2019, colheita do fumo, etc. não poderia ser mais inapropriado para este evento. No entanto, a surpresa foi grande: eles compareceram, alguns apenas com um representante. E como foi bom!
Às vezes, tenho a impressão de não conseguir dar conta das demandas pastorais que pipocam por todos os lados. De fato, “o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, Não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de ‘abrir mão’ – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial” (R. Alves). E citando Camus, Rubem Alves afirma com razão que o crepúsculo possui uma “beleza insuportável. Ela desespera-nos, eternidade de um minuto que desejaríamos prolongar pelo tempo afora“.
O “crepúsculo” é um termo polissêmico, tem muito sentidos. Pode-se falar no “crepúsculo de um olhar”, no “crepúsculo de uma experiência”, no “crepúsculo de estadia”, no “crepúsculo de um tempo”, no crepúsculo de uma deslumbrante jornada, etc. R. Alves arremata: “O crepúsculo faz chorar. A beleza faz chorar. Choramos porque o crepúsculo somos nós. Somos belos e efêmeros como o crepúsculo. O crepúsculo nos dá lições sobre o nosso ser”. Que o Tempo nos ajude a aproveitar o tempo em tempo.