Normalmente, os assim chamados meninos prodígios, resplandecem como luzentes meteoros por alguns instantes e o crescimento da idade os nivela à mesma altura da massa comum dos mortais. São poucas as exceções, entre as quais o santo que hoje comemoramos. Seu nome no cartório era Júlio César Russo, nascido em Brindes em 1559. Com esse nome ambicioso os pais talvez esperassem criar na família um imitador do grande líder romano. Aquele pequeno Júlio César teria correspondido mais tarde a esse desígnio, e o encontramos em primeira linha para impedir o avanço do exército turco, que já invadira a Hungria e marchava para o coração da Europa cristã. Mas não brandia a espada, e sim uma cruz de madeira, na qualidade de capelão, ou como se dizia então, o conselheiro do chefe do exército romano, Filipe Emanuel de Lorena.
Porém, já desde os seis anos ele enchia de orgulho os corações dos pais pela extraordinária facilidade em aprender de cor páginas inteiras de livros, que depois declamava em público, até do púlpito da catedral. As costas da península eram seguidamente castigadas por sarracenos, sobretudo na Púglia, nas proximidades da Albânia. A família dos Russo, como tantas outras, vivia no terror de horríveis surpresas; por isso a mãe de Júlio César, assim que ficou viúva, pensou logo em arrumar as malas e se mudar para Veneza, para confiar seu filho de 14 anos aos cuidados de um tio. Dois anos após o jovem entrava no convento dos frades menores conventuais, para passar pouco depois aos capuchinhos de Verona, entre os quais emitiu os votos religiosos com o nome de frei Lourenço de Brindes, completando sua formação na universidade de Pádua.
Sua vasta erudição aliada ao extraordinário conhecimento das línguas, entre as quais o grego e o hebraico, obtiveram-lhe muitos encargos na sua Ordem e da parte do papa. Foi provincial da Toscana, de Veneza, de Gênova, da Suíça, comissário no Tirol e na Baviera. Foi sobretudo grande animador de todos os que combatiam contra a ameaça dos turcos e aplaudido pregador da ortodoxia católica contra a reforma protestante. A serviço do papa Paulo V, foi embaixador de paz junto aos príncipes e reis em discórdia. A morte o colheu de fato durante a sua segunda viagem à península ibérica. Morreu a 22 de julho de 1619 em Lisboa e foi sepultado em Vilafranca del Bierzo. Incluído no catálogo dos santos em 1881, teve o título de doutor da Igreja (doutor apostólico) em 1959 pelo papa João XXIII.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.