No conjunto dos livros que estão contidos na bíblia cristã, sobressaem-se aqueles quatro que narram os fatos a respeito da vida de Jesus Cristo: Os Evangelhos de são Mateus, são Marcos, são Lucas e são João. Mas vocês sabem quem foram os evangelistas e em que contexto escreveram cada um de seus livros?
São Marcos
“Ele se orientou e dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de João, chamado Marcos; estava lá uma numerosíssima assembleia a orar” (Atos 12,12)
É verdade que o evangelista são Marcos não conheceu Jesus pessoalmente. Mas isso em nada diminui a autenticidade e a credibilidade de seu relato. Isso porque os pais de Marcos, oriundos de uma família abastada, figuravam entre os primeiros seguidores de Cristo. Mais até que isso: os historiadores creem que foram eles que cederam a casa para que o Mestre pudesse celebrar a Última Ceia. Ainda nesse mesmo lar aconteceram outros eventos importantes da história da Igreja primitiva, como a descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos reunidos.
São Marcos, portanto, embora não guardasse grandes memórias de Jesus e nem tivesse presenciado seus milagres, cresceu e conviveu com as testemunhas oculares de todos os eventos que depois ele próprio viria a relatar. Imagine como é morar na residência onde Nosso Senhor celebrou a primeira missa da história e onde ocorreram os eventos de Pentecostes!
Quando maior, são Marcos seguiu em viagem apostólica com são Paulo e são Barnabé, que era seu tio. Entretanto, devido a algumas discordâncias que nutria com o primeiro, deixou o grupo. Mais tarde, no entanto, ambos viriam a fazer as pazes, a ponto de que um dos últimos pedidos de são Paulo a Timóteo, quando já estava em prisão, foi para que ele trouxesse consigo são Marcos, que lhe seria de grande utilidade.
Depois de deixar são Paulo, o evangelista seguiu em viagem com são Pedro até Roma, onde se tornou seu auxiliar e intérprete, uma vez ele pouco conseguia se comunicar em latim. Foi da boca do primeiro papa que ouviu os relatos e as passagens que mais tarde narraria.
É provável que são Marcos tenha escrito o seu Evangelho logo após a crucificação de são Pedro, numa tentativa de restaurar os ânimos dos recém-convertidos que estavam abalados com essa terrível morte.
Quando mais velho, são Marcou seguiu em pregação até Alexandria, no Egito, onde acabou martirizado. Suas relíquias foram, posteriormente, transportadas pelos cruzados até Veneza, e lá se encontram até hoje.
São Lucas
Além de são Marcos, Lucas também não foi propriamente apóstolo, mas um discípulo dos apóstolos. Nasceu na cidade de Antioquia, uma das primeiras fora de Israel a ter uma comunidade cristã. Oriundo de uma família nobre, era médico e estudioso, provavelmente versado nas artes clássicas e na pintura. A tradição atribui a ele o primeiro ícone da Virgem Maria, o de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
São Lucas muito provavelmente conheceu são Paulo quando esse pregava em sua cidade natal. A doutrina evangélica e a inteligência do apóstolo cativaram-no, convertendo-o num fiel discípulo e seguidor de Jesus. Posteriormente, são Lucas viajaria com ele através da Grécia, onde auxiliaria na fundação de novas comunidades.
Quando Paulo foi condenado à morte, Lucas permaneceu durante todo o cativeiro ao seu lado. Alguns dizem que lá ele teria coletado e escrito parte de seus textos, que depois dariam origem ao segundo livro que também escreveu: Os Atos dos Apóstolos. Posteriormente, são Lucas teria voltado para a Grécia, onde atuou como membro da Igreja até sua velhice.
O evangelho de são Lucas é o único a ter a forma de uma carta, e foi endereçado a Teófilo, para esclarecer sobre a fé dos cristãos. Os historiadores ainda discutem quem seria esse homem, mas acredita-se que tenha sido um cristão proeminente de seu tempo, convertido entre os gregos.
São Mateus
Ao contrário de são Lucas e são Marcos, são Mateus esteve entre os homens que mais conheceram Jesus, justamente por ser um dos doze apóstolos de Cristo. Através dos Evangelhos conhecemos ele também pelo nome de Levi. São Mateus era o famoso cobrador de impostos que recebeu Jesus em sua casa e que depois foi convocado para a segui-lo.
Apesar de ter boa educação, devido à função que exercia, era odiado pelos judeus de seu tempo. Provavelmente foi essa rejeição que o levou a escrever seu evangelho para o próprio povo de Israel, buscando, através dele, mostrar a verdadeira lei de Deus e o sentido das profecias.
De fato, o Evangelho de são Mateus é um evangelho endereçado aos hebreus, com incontáveis referências às antigas profecias. Entretanto, seu ministério como apóstolo não foi reduzido à Israel: depois de Pentecostes, são Mateus teria pregado na Pérsia, na Macedônia (norte da Grécia) e na Etiópia, onde teria sido martirizado.
Atualmente as suas relíquias estão em Salerno, na Itália, onde podem ser veneradas.
São João
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus”. Essas palavras místicas abrem o Evangelho de são João e nos desvelam um grande entendimento teológico. De fato, de todos os evangelistas. são João foi o mais íntimo de Jesus: ao lado de Pedro e Tiago, ele era um dos três apóstolos que sempre acompanhavam o mestre, e que puderam contemplar momentos importantes de sua vida, como a transfiguração.
Duas cenas relacionam a Paixão de Cristo e esse discípulo e evangelista: Na primeira, durante a última ceia, ao passo de que Judas traí Jesus, João inclina sua cabeça sobre o peito do mestre e lamenta o anúncio de seu fim trágico e próximo. Num segundo momento, já aos pés da cruz, ele recebe Maria por mãe. A partir de então, se tornaria o grande responsável por cuidar de Nossa Senhora, visto que, sendo viúva, ela não tinha outros filhos biológicos que não Jesus.
É interessante notarmos que João refere-se a si mesmo, em seu evangelho, com o termo de “discípulo amado”. É um termo carinhoso,que revela mais de sua própria percepção do amor de Deus do que qualquer outra coisa. Ele foi, dentre os apóstolos, o único que não sofreu martírio. Entretanto, isso não o impediu de sofrer: São João, apóstolo e evangelista, morreu exilado na ilha de Patmos, na Grécia, local onde escreveu seu segundo livro: o do Apocalipse.
É interessante notarmos, sobretudo, que apesar de considerarmos geralmente os evangelhos como textos rebuscados, redigidos numa linguagem quase esotérica e de difícil compreensão, eles foram escritos em contextos muito diferentes, por pessoas concretas que deixaram nesses relatos os seus próprios traços. Também é importante percebermos a confiabilidade dos autores: dos quatro evangelistas, dois foram apóstolos e os outros dois foram discípulos desses apóstolos. Assim, aqueles que pretendem desconsiderar a validade dos evangelhos, o fazem mais por rejeição à doutrina ensinada do que por qualquer validade histórica.
São João, são Marcos, são Mateus e são Lucas evangelistas, roguem sempre por nós e por toda a Igreja!