Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma. Como o corpo que se lava não fica sujo, sem oração se torna impuro” (Mahatma Gandhi).
O tema da vigilância é recorrente no Novo Testamento. Vejamos algumas citações importantes: “Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos, e sejamos sóbrios” (1Ts 5,6); “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir” (Mt 25,13); “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento” (Mc 13,35); “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mt 26,41).
A vigilância cristã é perseverante e se alimenta da esperança. Toda a existência do homem é uma constante preparação para ver o Senhor. Importa que não vivamos desatentos. O salmista reza: “Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque sois o meu Salvador” (Sl 24).
Para manter-nos em estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência “natural” do ser humano é viver com os olhos cravados nas coisas da terra. O apóstolo Paulo escreveu que antes da aparição na história da bondade de Deus, “éramos insensatos, rebeldes, transviados, escravos de paixões de toda espécie, vivendo na malícia e na inveja, detestáveis, odiando-nos uns aos outros” (Tt 3,3). Portanto, as baixarias não devem fazer parte do quotidiano de uma família cristã; muito menos de uma comunidade eclesial. É uma flagrante contradição!
Jesus nos exorta para que fiquemos vigilantes quanto ao fato da brevidade da nossa vida. Trazemos dentro de nós o desejo e o anseio profundo de eternidade que, muitas vezes, se confundem com as falsas promessas de felicidade deste mundo; a mentalidade do mundo é presidida pela falsa lógica dos apegos desordenados às coisas da terra. Fiquemos alertas porque incontáveis são os ídolos que querem nos desviar do caminho de Jesus!
Assim será se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação”. Procuremos afastar de nós, pois, os obstáculos que impedem a acolhida do Senhor. Não há dúvidas, a pessoa absorta nos prazeres efêmeros fica alienada e vulnerável às tentações de toda espécie.
A preguiça, a indolência e o comodismo não podem fazer parte da vida dos seguidores de Jesus, pois se agirmos assim os falsos valores se impõem à nossa frágil psicologia e toda família é afetada. O domingo (dies Domini), por exemplo, muitos dormem, passeiam, praticam e/ou assistem programas esportivos, ficam vidrados em tantos entretenimentos, mas se esquecem do essencial, ou seja, não encontram tempo para ir à Igreja. Que vergonha!
Há também aqueles quem trabalham quais máquinas: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde… A propósito, Dalai lama, ao ser questionado sobre o que mais o impressiona no mundo de hoje, respondeu com sabedoria: “O que mais surpreende é o homem, pois perde a saúde para juntar dinheiro, depois perde o dinheiro para recuperar a saúde. Vive pensando ansiosamente no futuro, de tal forma que acaba por não viver nem o presente, nem o futuro. Vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido”. A resposta do sábio tebetano traduz uma verdade crua e melancólica dos nossos dias.
Numa reflexão recente, o papa Francisco reconhece que existem “cristãos pagãos” que se comportam como inimigos da Cruz de Cristo (cf. Fil 3,18). Ele afirmou que “a tentação de se acostumar com a mediocridade é uma ruína, porque o coração vai amornando. “E aos mornos, o Senhor diz uma palavra forte: ‘Você é morno e eu estou a ponto de vomitá-lo da minha boca’ (cf. Apo 3,2). É muito forte! São inimigos da Cruz de Cristo’”. Usam e abusam do “Santo nome”, mas não seguem as exigências da vida cristã”. São indivíduos que vivem perigosamente em estado de perpétua “dormência”.
Para examinarmos a consciência, o papa levanta algumas questões, simples, mas mordentes: “Eu gosto de me vangloriar? Eu gosto do dinheiro? Gosto de me esconder sob o manto do orgulho e da soberba? Onde estão as minhas raízes? ou melhor, onde está enraizada minha cidadania? No céu ou na terra? Nos valores do Reino ou nos caprichos mundanos?”. Depreende-se, pois, que a vigilância cristã supõe atitude de sentinela. Ai dos distraídos!
O amor ou apego ao dinheiro, a vaidade e o orgulho levam necessariamente à perdição; o amor a Deus e o serviço aos irmãos, feito com docilidade e humildade, fecunda o espírito e leva à Ressurreição. Não nos esqueçamos que “somos cidadãos do céu”: de lá esperamos, como Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nova Trento, 13 de novembro de 2014
Pe. Gottardo,sj