Por Jean Bunn
O Calendário Litúrgico da Igreja pode ser dividido em quatro grandes partes: O Ciclo do Natal, o Ciclo da Páscoa, e as duas fases do Tempo Comum, que separam as festas desses períodos (conforme se pode ver na imagem ao lado).
Dessa forma, o “Ano-novo” Litúrgico se inicia com o primeiro domingo do Advento, que abre as quatro semanas de preparação para o nascimento de Nosso Senhor. As comemorações que são próprias do Natal se estendem até o batismo de Jesus, no início de janeiro, depois do qual tem-se início a primeira parte do Tempo Comum.
Primeira fase do tempo comum
Essa primeira parte do Tempo Comum dialoga com a morte de São João Batista e o início da vida pública de Jesus. Aqui vemos o Querigma de Cristo, isto é, o primeiro anúncio da Boa Nova. Nessa fase de pregações, Ele realiza incontáveis curas e conversões. Temos também a possibilidade de meditar o chamado dos primeiros discípulos, incluindo os doze apóstolos.
É preciso atentar que o Evangelho de São Marcos é chamado de Evangelho Querigmático justamente por evidenciar essa realidade das primeiras pregações.Os antigos Pais da Igreja notaram uma presença tríplice nos textos do evangelista que se passam em Cafarnaum: Primeiro Cristo expulsa o demônio da sinagoga (Cf. Mc 1,21b-28). É a serpente retirada do jardim de Deus. Em seguida, ele cura a Sogra de Pedro (Cf. Mc 1,29-39), que personifica Eva, e o leproso (Cf. Mc 1,40-45) – e aqui temos Adão. Esses três encontros de Jesus, que são narrados na primeira parte do evangelho, sintetizam a missão que Deus veio realizar no mundo: A expulsão do mal e a redenção do gênero humano.
A fase “querigmática” do tempo comum, por assim dizer, estende-se até a quarta-feira de cinzas (que é celebrada sempre no fim de fevereiro ou no início de março). Somos convidados, a, assim como os apóstolos que deixaram seus barcos e seguiram Jesus, também abandonarmos nossas misérias e nos aproximarmos de sua misericórdia. É tempo de ouvir de de meditar a Palavra, de deixar-se seduzir pela beleza de cada uma daquelas pregações em praça pública e daquelas curas que revelam, num toque ou no olhar, todo o poder transformador do Cristo.
Na quarta-feira de cinzas, o tempo comum é interrompido para as celebrações da quaresma e da Páscoa. Nas leituras da liturgia percebemos que aquele anuncio, antes recebido de bom grado, é agora rejeitado. Levam a Cristo, que tanto curou e converteu, a julgamento, onde é sentenciado, morto e, a despeito do que os judeus esperavam, ressuscita.
Segunda fase do tempo comum
Após Pentecostes, quando o Cristo ressuscitado derrama o Espírito Santo sobre seus Apóstolos, reunidos entorno da Virgem Santíssima, e os envia a todo o mundo em missão (Cf. At 2,1-4), iniciamos a segunda etapa do tempo comum. Aqui, como cristãos libertos, somos chamados a agir e atuar no mundo. Se na primeira etapa desse tempo ouvimos a Palavra e nos convertemos diante da profundidade dos prodígios e do Amor de Deus, agora somos convocados a propagar o evangelho a todas as nações.
Durante essas semanas, a liturgia revê tudo o que Cristo ensinou, com mais clareza e profundidade. Também são celebrados aqui alguns mistérios a respeito de Jesus, como a solenidade do Sagrado Coração e Cristo, Rei do Universo.
Tempo comum: Um tempo menor?
Pode-se causar, em certos fieis, a impressão injusta de que o tempo comum é um período de menor importância no Ano-Litúrgico. Chamam a nossa atenção as grandes liturgias da Páscoa e do Natal. Se por um lado é verdade que não temos, nessa época, os emocionantes ritos da semana santa ou a beleza do presépio e da coroa do Advento, por outro, diminuir a importância do Tempo Comum seria amputar o verdadeiro sentido da caminhada cristã. O mistério da encarnação e da Paixão perdem seu sentido se não contemplamos o que nos foi transmitido pelo Cristo-homem e nem saímos em missão, enviados pelo Ressuscitado.
A verdade é: A perseverança e a esperança são duas chaves para compreender esse período. Somos convidados a contemplar os milagres e a meditar as pregações transmitidas pelo Mestre. Quantas parábolas únicas, absorvidas há muito pela cultura popular! Que profundidade em cada sermão, em cada gesto! O tempo comum é uma época para deixar-se permear pelo Espírito que vivifica, é oportunidade de manter-se como a árvore verde e fecunda! Somos chamados, em suma, a caminhar com Cristo na frutificação de seu Reino.
A simbologia do verde
Não é segredo para o fiel católico que o verde é a cor do tempo comum. O sentido é ao mesmo tempo evidente e amplo. A cor representa a esperança, a vida, o frescor das folhas. De fato, são inúmeras as referências bíblicas que comparam as plantas com aquilo que é fecundo: Na parábola do semeador somos convidados a ser terreno fértil, onde o evangelho possa germinar e produzir frutos. Na parábola do grão de mostarda (Cf. Mc 4,30), Jesus equipara o seu Reino com uma árvore, cuja semente, embora pequena, estenderá seus ramos por todo o mundo. Na do joio e do trigo (Cf. Mt 13, 24-30), os bons são igualados ao trigo que será guardado no celeiro e os maus ao inço que está destinado a ser queimado na fornalha. Em são Lucas (13,6-9), Cristo relaciona Israel com a figueira infértil que deve ser adubada pelo agricultor. O mesmo ocorre em são Mateus (21, 18-22), um pouco antes da Paixão, quando ele faz uma figueira sem frutos secar, aqui novamente representando o judaísmo tradicional.
Na parábola dos trabalhadores da vinha e na parábola dos lavradores maus, seu reino é novamente comparado com uma plantação. Mas talvez a comparação mais icônica ocorra em são João:
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto.” (Cf. Jo 15,1-2)
O simbolismo da cor verde é tão forte que na liturgia bizantina, ele é usado especialmente nas solenidades relacionadas ao Espírito Santo, como, evidentemente, a festa de Pentecostes. Até mesmo no momento da cruz, a exortação diante das mulheres chorosas:
“Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, choreis antes por vós mesmas (…) pois se fazem assim com o Lenho Verde, o que acontecerá com o seco?” (Cf. Lc 23,21)
O tempo comum é, portanto, tempo de sermos membros vivos do Corpo de Cristo atuante na história. É momento de ser o sal que salga e a luz que ilumina (Cf. Mt 5, 13-14) , num sentido de comunhão e continuidade com o mistério da redenção do homem.
SOLENIDADES E FESTAS CELEBRADAS NO TEMPO COMUM:
Fixas:
Apresentação do Senhor: 02 de fevereiro
Natividade de João Batista: 24 de junho
São Pedro e São Paulo: 29 de junho (transferida para o domingo seguinte)
Transfiguração do Senhor: 06 de agosto
Assunção de Nossa Senhora: 15 de agosto (No Brasil, transferida para o domingo seguinte)
Exaltação da Santa Cruz: 14 de setembro
Nossa Senhora Aparecida: 12 de outubro
Todos os Santos: 01º de novembro
móveis:
Santíssima Trindade: No domingo após Pentecostes
Corpus Christi: Na quinta-feira após a Santíssima Trindade
Sagrado Coração de Jesus: Segunda sexta-feira após Corpus Christi
Jesus Cristo, Rei do Universo: Último domingo do Tempo Comum