Por Jean Bunn
A realidade é crua e assustadora: Em meio ao cabo de guerra que existe entre o barbarismo e a ideologia de gênero, nossa época parece ter perdido o sentido da masculinidade cristã.
Basta olharmos para os bancos de nossas igrejas e capelas. As mulheres assumiram a dianteira do serviço na casa de Deus, e nós, homens, nos tornamos tímidos e esquivos. De fato, o cristianismo é hoje a única religião do mundo onde a maioria dos devotos são do sexo feminino, embora o governo da Igreja seja exercido majoritariamente por homens. O problema permeia todas as vertentes cristãs, mas é ainda mais grave no catolicismo, e indica algo que precisa ser urgentemente resolvido.
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer, para evitar confusões, que não há nenhum mal na atuação feminina dentro da Igreja, muito pelo contrário. Mas ela deveria vir acompanhada também pela presença de nossos rapazes e homens, o que definitivamente não está ocorrendo. É como se o “argumento” cristão fosse incompatível com a figura masculina. O discurso proferido de nossas cátedras tem sido em vão ante os ouvidos dos jovens e até mesmo de homens mais velhos.E isso traz-nos a pergunta: Por que esse estranho fenômeno aflige nossa época?
A razão é evidente e precisa ser trazida à luz: temos oferecido aos nossos fieis uma mensagem falseada e afeminada (aqui utilizando esse termo em seu sentido mais negativo). Nas homilias do dia-a-dia, muitos padres pregam o Cristo água com açúcar e a bizarra necessidade ser sermos bons apenas para não machucarmos Jesus, aquele amigo que se encarnou com o único objetivo de transmitir uma mensagem de paz e de amor. Todo o sentido escatológico e libertador dos planos de Deus é esquecido, escondido, distorcido. Isso pode agradar a quem fala, mas soa falso e vazio aos jovens, que não encontrarão a necessidade de seguir uma doutrina assim. É evidente a desproporção entre o que temos exigido e o que é oferecido em troca. De um lado, queremos homens, engajados, castos, bondosos, comprometidos e afáveis, e em contrapartida damos a eles promessas abstratas de paz interior e de amor.
A espiritualidade oriental está muito melhor preservada dessa corrupção, que no fundo é fruto de um materialismo surgido na Revolução Francesa e que alcançou, na modernidade, níveis extraordinários. Para nossos irmãos bizantinos, a theosis, a divinização da humanidade (deuses por participação, parafraseando santo Tomás), ainda é visível nas exortações e na mentalidade dos fieis. Ela confere ao homem o seu verdadeiro fim: Alguém criado para herdar o reino de Deus, e não para seguir uma ética simplesmente material e terrena. As exigências aos homens cumprem, dentro dessa ótica, seu sentido mais pleno e verdadeiro.
Embora esse seja um primeiro ponto, há ainda um segundo mais grave: Parece ter surgido em nosso meio certa antipatia à masculinidade em si mesma. Quando vemos um padre exaltar-se e agir como verdadeiro pai espiritual, dizendo o que é preciso ser dito e exercendo sua firmeza, logo o condenamos como menos sacerdotal ou menos – espante-se – cristão! Nos acostumamos a pensar enganadamente que o sacerdote deve ser uma figura mais frágil e passiva. Como crer que os homens jovens poderiam, crescidos e educados nessa visão, sentir-se impelidos ao ministério ordenado? E como podemos tentar resolver a evidente crise vocacional sem antes solucionarmos essa visão torta que parece ser a causa de todo esse mal?
E engana-se quem pensa que o desaparecimento da masculinidade cristã do imaginário comum afetou apenas nossos padres. A crise matrimonial das últimas décadas não é nada mais que outra consequência diabólica que resulta disso.
Entretanto, diante dessas colocações, surge a incógnita: Qual a imagem do homem cristão que deve ser apresentada aos nossos meninos? Afinal, expor um problema sem mostrar os caminhos para resolve-lo é injusto e só criaria mais confusão. E não é isso que aqui pretendemos. É claro, por outro lado, que a masculinidade cristã não poderia jamais ser restrita ao que aqui colocamos. Mas os pontos que serão apresentados abaixo devem servir como luzes, que irradiando a escuridão, norteiam o caminho a ser seguido.
O equilíbrio entre dois valores: bravura e gentileza
É difícil manter o controle entre duas qualidades que podem se contrapor com facilidade. De fato, como nos ensina C.S. Lewis, o homem cristão deve sintetizar na sua alma bravura e gentileza, o que pode soar como tentar misturar óleo e água. Mas isso apenas dentro de uma visão superficial e periférica das coisas.
O primeiro dos valores, a bravura, parece mais natural, sobretudo ao homem primitivo. De fato, biologicamente, o ente masculino foi projetado para ser um caçador. Tem mais músculos, mais resistência ao frio, uma maior facilidade de concentração. Seu corpo produz hormônios como a testosterona, que embasam essas características. E não há nada de errado nisso.
Liderar, enfrentar os problemas, defender a comunidade e o país na guerra, ser firme, resoluto e forte são atributos que só foram dissociados do cristianismo recentemente. Quem pretende, diante do vigor de um rapaz, diminuir isso para adequá-lo a uma visão romântica e sentimental da ética cristã, procede totalmente errado.
É claro, como disse o papa são João Paulo II, que a masculinidade, quando corrompida, gera a tendência de dominar os mais fracos, de arrancar as coisas, de destruir e dizimar. E aqui está a necessidade da gentileza.
Se a gentileza sem a bravura forma homens fracos e molengas, a bravura sem a gentileza faz surgir bárbaros estúpidos e emburrecidos, raça que parece também se proliferar nos dias de hoje. De fato, a perda da cosmovisão de uma masculinidade cristã resultou no aparecimento de uma nova classe: o vândalo contemporâneo. Isolado em sua tribo, ele anda somente na companhia de outros rapazes como ele. Se veste como mandam e necessita da aprovação do grupo para se sentir incluído. É um comportamento típico de adolescente, que de forma infeliz, frequentemente se estende muito além do puberdade. Claro que pertencimento tribal (ou grupal, como se preferir) é típico do homem, principalmente do adolescente – herança de tempos remotos e primitivos. Mas essas tribos contemporâneas agem apenas para testar, rebaixar e humilhar seus próprios membros. Se antes os homens se uniam em grupos para facilitar e ajudar-se mutualmente, agora o fazem para se destruir uns aos outros. A força e a masculinidade, projetadas pela natureza para serem úteis, são aqui usadas de maneira ridícula. Não podendo mais caçar mamutes, agora destroem bancos de praças e placas de trânsito. O problema é que havia uma utilidade na caça, enquanto o segundo caso apenas traz alienação. Como resultado direto disso, há hoje a maior crise depressiva da história: No fim das contas, é no serviço que nos sentimos importantes e necessários. O rapaz contemporâneo, inútil e descartável, só pode se tornar depressivo e necessitado da aprovação de outros. No fim, trata-se de um ciclo vicioso que culminará na destruição do indivíduo.
A gentileza é aqui o vetor que tempera e deifica o homem. É o que permite canalizar melhor as características que lhe são naturais dentro da ética cristã. Ao invés de bárbaro, ele se torna o cavaleiro civilizado. Já não luta porque quer provar aos outros que é forte, mas, amadurecido, o faz porque sabe que há pessoas mais fracas que dependem diretamente de seu auxilio. Aprende a controlar seus impulsos, evitando ferir em vão aqueles que lhe cercam.
Entretanto, a gentileza masculina é uma gentileza firme. É também dizer o que é preciso para se evitar o erro. É ser reto e justo no cumprimento da palavra e nos negócios. É corrigir sem temor ao mesmo tempo em que se cuida com carinho das crianças e dos doentes.
Esse ideal foi muito bem sintetizado no guerreiro cristão da Idade Média. Dois pilares mantinham os verdadeiros cavaleiros: Em primeiro, a capacidade de lutar até a morte, se preciso for, por aquilo que é justo, bom e necessário, e em segundo lugar abster-se de fazer mal e de prejudicar aos que nos cercam. Se por um lado não há o sentimentalismo feminino, pelo outro também não se pode dizer que isso não é cristianismo.
Por fim, duas considerações para um assunto que poderia se estender muito mais: O primeiro é a necessidade de resgatarmos a biografia de santos homens, como santo Inácio e são José. Se queremos uma masculinidade cristã, é preciso tirar da gaveta do esquecimento os melhores exemplos que temos: o daqueles que chegaram à santidade. Em segundo, não podemos esquecer-nos que o homem cristão está rodeado, em sua missão, por um caráter sacrificial, como nos diz são Paulo na carta aos Efésios:
“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.” (Cf. Ef 5, 25-26)
Colocando em outras palavras, amor de homem é amor que deve ser sustentado até a cruz, se preciso for. Portanto, Esto Vir! Sejamos homens.