Por Jean Bunn
Todo católico que se preze já ouviu a acusação protestante de que idolatramos um Deus morto, o Deus da cruz. Para nossos irmãos apartados da Igreja, a veneração do sofrimento de Jesus e a memória de sua crucificação constituem uma aberração, pois, segundo seus argumentos, Cristo não está morto, mas vive e reina.
Essa visão de que católicos em geral prezam um Deus sofrido e chagado é comum até mesmo dentro da Igreja. É possível entendê-la, mas não deixa de ser uma postura míope e limitada. Quem assim pensa e argumenta não entendeu o verdadeiro sentido do madeiro de Cristo.
Ora, a cruz não é e nem nunca foi símbolo de dor e de derrota, mas da vitória absoluta do Amor! Em verdade, Deus, ao assumir nossa condição humana, tinha todo poder para evitar o sofrimento e para, através de um simples pensamento, vencer todos os seus algozes e se libertar do Calvário. Com um único gesto poderia ter destronado Herodes e Pilatos, poderia ter demovido o sumo sacerdote do cargo e até mesmo da vida. Mas assim ele não teria vindo planamente ao nosso encontro e nos redimido com seu sangue – sua entrega jamais seria legítima.
O Amor verdadeiro deve ser abundante. Se Cristo tivesse fugido da Cruz, teria dito amar-nos apenas nos momentos convenientes, apenas até a dor encontrá-lo. Mas não, o amor de Deus não é jamais parcial, interesseiro, fraco e medroso como o nosso. Ele ama-nos com o completo holocausto de si mesmo, consumindo-se inteiramente por nós.
Por isso a cruz é Vitória. Ela é o triunfo da vida sobre as forças da morte. E ela se atualiza, todos os dias, quando nos mantemos firmes e convictos mesmo diante dos desafios cotidianos. Viver é estar aberto a esse constante convite para que transformemos o sofrimento em triunfo, através da fidelidade cotidiana aos nossos irmãos, aos nossos amigos, à nossa família em meio aos desencontros do dia a dia.
Se, diante de uma ofensa escolhemos o perdão, se diante do defeito do(a) esposo(a) optamos pela compaixão, então vencemos a cruz que nos oprime. É preciso que nos livremos dessa visão materialista de que apenas no prazer e na alegria existe a realização humana. Muito pelo contrário: feitos no Amor e para o Amor, caso nos corrompamos por conforto e por vantagens momentâneas, destruímos a nós mesmos. E então, o que aparenta ser uma vitória, torna-se na verdade derrota e humilhação.
Basta ver os corruptos que nos governam. Esses infelizes venderam até a alma ao diabo por dinheiro e poder. E agora, destruídos, humilhados, sem convicções e sem ter pelo que lutar, pagam alto pelos seus feitos. Quiseram o Cristo sem a cruz e encontraram uma cruz sem Cristo.
Portanto, ao olharmos, na Sexta-feira Santa, para o sofrimento de Nosso Senhor, consumamo-nos em amor por esse deus vitorioso, conscientes do verdadeiro sentido do que celebramos. Como diria São Paulo em sua carta aos Coríntios, “nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios.” (1,23) Que assim sempre seja!