Como gostaria de encontrar as palavras para encorajar uma estação missionária mais ardorosa, alegre, generosa, ousada, cheia de amor até ao fim e feita de vida contagiante” (papa Francisco)
O mês de outubro é um tempo para pensarmos mais detidamente sobre a dimensão missionária da Igreja. Aqui, pretendo fazer eco ao discurso que papa Francisco fez aos participantes da Assembleia Geral das Pontifícias Obras Missionárias (POM), em Roma. Na ocasião o Pontífice abriu o coração (nenhuma novidade!) e partilhou suas preocupações: “O anúncio do Evangelho é a primeira e constante preocupação da Igreja, é o seu compromisso essencial, o seu maior desafio e fonte de renovação”. Não hesita em reconhecer que “a humanidade precisa muito do Evangelho, fonte de alegria, de esperança e de paz. A missão evangelizadora é prioridade porque a atividade missionária é o maior desafio da Igreja”.Não há alternativas: “A quem iremos, Senhor?” (cf. Jo 6,68).
Para além dos modismos teológicos e das vaidades pessoais, as transformações das estruturas e das atividades pastorais no interior da Igreja dependem da ação evangelizadora, da sua intensidade e da sua eficácia no mundo cada dia mais secularizado e árido: “Sem a inquietação e ânsia da evangelização, não é possível desenvolver uma pastoral crível e eficaz, que una anúncio e promoção humana”. É nas “periferias humanas que a Igreja é chamada a sair pelas ruas e ir ao encontro de tantos irmãos e irmãs que vivem sem a força, a luz e a consolação de Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolham, sem um horizonte de sentido e de vida”.E quando predomina a religião das devoções e do “consumo” de sacramentos? Que fazer, quando as pessoas parecem estar dormindo e/ou com a consciência anestesiada?! This is question!
A confiança da ação do Espírito do santo padre impressiona: “A fé e o amor de Cristo têm a capacidade de mover-nos em qualquer lugar para pregar o Evangelho de amor, de fraternidade e justiça”. Apresenta alguns critérios que devem acompanhar o processo de evangelização: “Com a oração, com coragem evangélica e com o testemunho das bem-aventuranças”.Na recente passagem por Cuba, foi taxativo: “O cristão é convidado sempre a deixar de lado suas buscas, afãs, desejos de onipotência ante o olhar concreto aos mais frágeis”. É preciso ter cuidado com as ideologias falazes: “Os cristãos devem ‘servir’ aos mais frágeis na sociedade e ‘não servir-se’ deles”.
O Papa insiste que estejamos atentos a não cair na tentação de transformar a Igreja numa espécie de ONG onde “o dinheiro ao invés de ser tornar auxílio à missão, se torna fonte da ruína”.Aponta outra patologia: “O funcionalismo quando colocado ao centro, como se fosse a coisa mais importante, nos leva à ruína”. Sem falsas ilusões, sentencia: “Uma Igreja que se reduz à eficiência dos aparatos de partido já morreu, mesmo que as estruturas e os programas em favor dos clérigos e dos leigos ‘auto-ocupados’ durem ainda por séculos”. Por isso, “com tantos planos e programas, não deixem Jesus Cristo fora da Obra Missionária”. As paróquias precisam estar antenadas!
Numa outra ocasião, o papa argentino foi categórico, apontando aquilo que, talvez, seja o tendão de Aquiles na atual configuração da Igreja: “Em nós está sempre presente a tentação de opor resistência ao Espírito Santo, porque perturba e impele a Igreja a avançar. E é sempre mais fácil e confortável acomodar-se nas próprias posições estáticas e inalteradas. A Igreja mostra-se fiel ao Espírito Santo na medida em que põe de lado a pretensão de domesticá-lo. E nós, cristãos, tornamo-nos autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos conduzir pelo Espírito. Ele é frescor, criatividade, novidade”. Precisamos, enquantos comunidades eclesiais sair do casulo e da zona de conforto. Há comodismo e preguiça demais, e espírito missionário de menos.Há crendices demais e fé de menos. A verdade dói e incomoda deveras, mas é preciso encará-la de frente. Evangelizar é preciso… E ai de mim se não pregar o evangelho! (cf. 1Cor 9,16).
E concluiu: “Que Nossa Senhora, estrela da evangelização, nos dê sempre a paixão pelo Reino de Deus, para que a alegria do Evangelho chegue aos confins da terra e nenhuma periferia fique sem a Sua luz”.Amém.
Nova Trento, 1 de outubro de 2015
Pe. Roberto J. Gottardo,sj