A vocação é o chamado de Deus em nossa vida. Trata-se justamente de uma voz que arde no íntimo de cada alma, convocando-a a santificar-se através de determinado modo de viver – seja num matrimônio, numa vida consagrada, ou até mesmo através da vocação de leigo batizado. É interessante notarmos que a voz do Senhor corresponde à mesma voz que ressoa no mais profundo de nosso coração: em outras palavras, isso implica dizer que a vontade de Deus é que realizemo-nos plenamente a nós mesmos.

Deus, em sua misericórdia e onipotência, nos fez singulares. Cada um de nós possui características e disposições próprias, que, tomadas em conjunto, constituem o que somos de fato e indicam a forma com que devemos corresponder ao nosso Criador. No entanto, nossas inclinações e nossas faltas obscurecem e atrapalham esse chamado ao Amor que existe em nosso interior. Muitas vezes somos movidos, de forma desordenada, por nosso egoísmo, por nosso orgulho ou por tantas outras inclinações deslocadas. O resultado disso é a nossa própria infelicidade e insatisfação. Enquanto humanos e filhos de Deus, fomos criados para a plenitude e a comunhão. Qualquer outra forma de agir, ainda que seja atraente e pareça-nos saborosa num primeiro momento, só nos trará o amargor e a tristeza.

Discernir a vocação é fundamental para o amadurecimento e a caminhada na fé. Embora cada pessoa trace seu próprio caminho e cada alma seja única nos projetos divinos, existe por trás de nós mesmos uma convocação a um estilo de vida próprio. De forma sintética, podemos estabelecer que são essas as vocações que encontramos no seio da Igreja:

 

Desde os primórdios da humanidade, homem e mulher sempre viveram de forma conjugal – um consolando e auxiliando o outro a enfrentar o ardor da vida. Nosso Senhor criou ambos os sexos para se completarem mutualmente (embora masculino e feminino sejam diferentes em muitos aspectos, os dois possuem a mesma dignidade humana perante o Criador). Assim, o matrimônio representa uma abertura ao que é diferente de mim, ao que me falta, àquilo que sei que preciso para ser mais pleno. Pela vocação ao casamento os esposos alcançam a realização.

Com o advento do cristianismo, a união conjugal foi elevada ao patamar de sacramento. Com isso podemos afirmar que, mais que unir o casal, ela deve servir para a santificação mútua do marido e de sua mulher. Através desse chamamento, encontra-se na vida familiar a cruz e o paraíso, que nos purificam e nos conduzem a Deus. Dentro da cosmovisão cristã, o cônjuge não deve enxergar o outro como simples fonte de prazer e de felicidade, mas como alguém a quem se deve respeito, consolo e auxilio. O matrimônio é, em suma, o voto de duas pessoas que prometem se amar e se respeitar até que a morte os separe. Deus, diante de belo ato, deseja ardentemente elevar o casal à perfeição, de forma que seus lares se tornem verdadeiras igrejas domésticas.

Entretanto, para que isso ocorra, é fundamental que ambos tenham uma vida firmada na oração e nos sacramentos. Naturalmente o casamento passa por desgastes, mas Jesus Eucarístico pode vencer qualquer defeito e limitação. O sucesso do matrimônio dependa que o casal siga o lema do papa são Pio X de sempre restaurar todas as coisas em Cristo.

 

 

A figura do sacerdote é bíblica e existe desde o nascimento do povo hebreu. Na antiga lei, ele era o responsável pelos sacrifícios e oblações ao Deus de Israel. Já com o advento do cristianismo, Jesus eleva esse serviço à sua perfeição. Se antes o sacerdote derramava o sangue de cordeiros e ofertava as primícias da colheita, agora ele deve doar-se por inteiro, oferecendo aos irmãos e a Deus a própria vida. Aquele que é chamado a seguir essa vocação sente em seu peito um desejo forte de entrega, de ir além do ordinário e do cotidiano. O padre, nesse sentido, é convidado por Jesus a configurar-se com ele, a ser um só com seu coração e a constituir, no meio do povo, uma presença viva do próprio Cristo.

É Jesus quem age e vive através do sacerdote. Quando este diz na confissão: “Eu te absolvo dos teus pecados…”, ou ainda durante a missa, quando fala “Isto é o meu Corpo” e “Isto é o meu sangue”, ali está o próprio Senhor, com toda a sua presença santificadora, falando junto e através daquele homem consagrado. Do mesmo modo, quando o sacerdote diz, na Oração pela Paz, “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a minha paz…”, é Deus que está ali, vivo e real diante de nós, desejando-nos aquela mesma Paz que foi soprada sobre os apóstolos reunidos após a ressurreição. O padre age, assim, In Persona Christi (sobre a pessoa de Cristo), especialmente durante a celebração dos sacramentos que lhe são próprios.

O sacerdote católico não deve ser alguém que foge de problemas pessoais ou afetivos buscando refúgio na vida ordenada, mas um homem que, percebendo as misérias e as limitações do mundo, sabe que a melhor forma de ajudar aos seus é levando a eles aquilo que de melhor pode oferecer: Jesus. É alguém que abre mão da paternidade biológica para que possa ser pai espiritual de multidões inteiras. É alguém que abre mão de uma esposa para que possa se casar com a igreja de Cristo. É, em suma, uma chama viva a se consumir para aquecer o povo de Deus.

Aqueles que sentem em si o chamado à vocação sacerdotal devem trilhar um caminho de estudos e de atuação pastoral, seja no seio de uma diocese ou dentro de uma congregação religiosa. Por fim, depois desse percurso e de serem admitidos por um bispo (que sucede aos apóstolos como pastor), são constituídos sacerdotes eternos do Deus Altíssimo através do sacramento da ordem.

 

 

A vida religiosa está intimamente ligada a um carisma, isto é, a um modo específico de  transmitir ao mundo a presença de Deus. O religioso é alguém que é convocado a manifestar certos aspectos de Cristo – seja vivendo a pobreza, ajudando os doentes, educando as pessoas, alimentando os famintos… Assim, quem se consagra a esse chamado abre mão de uma vida familiar para que participe de um relacionamento mais íntimo com o Criador e com seus irmãos dentro de algum instituto, grupo, congregação ou ordem.

Ao longo da história da igreja, foram inúmeras as vocações religiosas que Deus despertou, a fim de sanar as necessidades temporais de sua Igreja. No final da Idade Média, num período em que ser membro do clero começava a se tornar sinônimo de obter uma vida luxuosa, foi através de são Francisco e dos franciscanos que o sentido da pobreza evangélica foi restituído. Durante as heresias na França, os frades dominicanos foram levantados por Deus para resgatar as ovelhas apartadas através do anúncio do verdadeiro Evangelho; e assim também, quando o cristianismo começou a ser perseguido no norte da Europa pela reforma protestante, Deus fez surgir Santo Inácio e a Companhia de Jesus para defender o papa e a Igreja.

Muitos, infelizmente, confundem vocação religiosa com vocação sacerdotal. Embora um religioso possa ser também sacerdote (e vice-versa), isso não é a norma. Ser religioso significa servir a alguma congregação ou ordem, em geral através dos votos de pobreza, de obediência e de castidade, e implica a conservação do carisma e da espiritualidade que são próprias da instituição à qual ingressar. Além disso, outra grande característica do religioso é a vida comunitária e a partilha dos bens com os irmãos. Já o sacerdote é chamado a auxiliar os bispos no exercício do ministério ordenado, atuando In Persona Christi.

Muitas vezes, ao longo da história da Igreja, as dioceses confiaram paróquias às congregações religiosas, para que enviassem à elas seus padres. É o caso de nossa paróquia em Nova Trento, que ao longo de seus 90 anos ficou confiada nossa arquidiocese aos Jesuítas.

Mas o maior trabalho dos religiosos se dá em hospitais, escolas, universidades e em outras obras de atendimento social. Também o trabalho caritativo e as missões  são próprias daqueles que sentem esse chamado ardendo em seu peito. Algumas famílias religiosas, por sua vez, optam por uma vida conventual, onde permanecem em oração constante pela Igreja e na santificação mútua de seus membros.

 

A vocação leiga é aquela comum a todos os cristãos batizados, enquanto cidadãos da pátria celeste. Através do batismo recebemos o selo da trindade santa e nos tornamos filhos e filhas de Deus, chamados à manifestar o seu Amor divino em meio às realidades do mundo. Os leigos – sejam casados ou solteiros – devem santificar-se em suas próprias realidades, através do trabalho, da oração e do auxilio na comunidade. Não há para Deus contextos e locais onde ele não possa se fazer presente. Nosso Senhor tudo santifica, tudo transforma e tudo restaura em Jesus Cristo.

Ao longo da história da Igreja, tivemos santos que foram professores, coroinhas, médicos, agricultores, advogados, soldados, artesãos…. cada qual, na sua própria profissão, pôde externar a beleza da realidade de Deus, se fazendo presença vivificante entre as pessoas.

Há ainda as ordens terceiras, ligadas às tradicionais congregações (a Ordem Terceira Franciscana, os Oblatos de São Bento…), que são formadas por leigos que buscam atualizar na vida cotidiana a espiritualidade e o carisma desses grupos religiosos. Além disso, frequentemente esses leigos auxiliam na manutenção de conventos, mosteiros e outras casas católicas.

Alguns irmãos, por diversas situações possíveis (seja por doenças, por contextos sociais, pela rotina que levam), acabam não sendo chamados nem ao matrimônio, nem ao sacerdócio ou à vida religiosa. No entanto, seria mesquinho pensar que simplesmente por isso essas pessoas não têm vocação, não são impelidas à santidade. Enquanto batizados podem e devem se santificar, caminhando numa união constante e íntima com Deus.

 

 


A grande maioria das pessoas é chamada ao que chamamos de vida secular: Santificam-se no cotidiano, dentro do espírito de sua própria época e de sua condição. Mas existem aquelas almas especiais que Deus convida ao isolamento e a uma profunda vivência interior: Disso nasce a vida monástica.

Os monges e as monjas seguem uma regra, isto é, uma rotina que divide-se entre o descanso, a oração e o trabalho. Habitam um mosteiro (geralmente enclausurados), onde convivem com outros monges, que, juntos, organizam toda a estrutura de manutenção e preservação do ambiente.

Diferentemente dos religiosos, cujos três votos são o de pobreza, obediência e castidade, aqueles que optam por uma vida monástica professam os votos de conversão de costumes, de obediência e de estabilidade ao mosteiro.

Ao longo da história da igreja a vocação monástica foi profundamente fecunda e responsável pela manutenção da cultura, da liturgia, das artes e do conhecimento em geral. Eram os monges e monjas que, enclausurados no interior de suas comunidades, se tornavam os grandes responsáveis por copiar livros numa época em que a imprensa estava longe de ser inventada.

Ainda hoje, a maioria dos mosteiros está ligada à alguma atividade artística e intelectual. Mas, muito acima disso, a grande beleza dos monges reside no fato de sustentarem toda a igreja com suas orações constantes. Além disso, o desposamento, a abnegação e a intimidade com Deus são faróis num mundo cada vez mais caótico, perturbado e materialista.

 

 

Parte importante de nossa vida está em escolhermos o caminho que seguiremos. Nesse sentido, a parábola do jovem rico, que teve medo de renunciar ao mundo para buscar Jesus, é fundamental. Quantas vezes tememos aquele chamado que arde em nosso íntimo – seja por medo, receio, vergonha – e acabamos tentando barganhar com Deus, mesmo sabendo que isso não nos realizará? Parecemos viver numa época de vocações frustradas e de depressão generalizada. Grande parte disso se resolveria caso rompêssemos nosso medo interior em busca do que nos fará melhor.

Alguns, por já estarem em idade mais avançada, pensam ser tarde demais para responder a Deus. Mas, até mesmo às portas de velhice, ainda podemos ver nossa vida transformada por Deus. Basta repararmos em figuras como santo Agostinho, santo Inácio e são Francisco, que descobriram sua vocação tardiamente, após terem passado por muitos transtornos e desencontros.

Estamos aqui para ajudar você a discernir e a seguir melhor sua vocação. Seja um jovem buscando uma vida consagrada,  noivos querendo o amadurecimento, um casal precisando auxilio para enfrentar suas crises, um leigo com problemas em seu cotidiano, não deixe jamais de procurar a nossa equipe. Lembre-se: Somos a Igreja católica. Somos a sua casa.

 

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