Vladislau III Jagelão, lituano, chefe de grande dinastia, converteu-se ao cristianismo por amor ao trono da Polônia, antes que por amor à princesa Edniges, herdeira da coroa. Entre as boas coisas realizadas enumera-se a criação em 1400 da célebre Universidade de Cracóvia. Nela, poucos anos depois, ocupou a cátedra de filosofia e teologia João Câncio, como ele próprio se chamava, pelo costume de traduzir para o latim os nomes nórdicos.
João nasceu em Kety, pequena localidade da Polônia, em 1390. Em Cracóvia fez os seus estudos, laureou-se e foi ordenado sacerdote. Obteve a cátedra universitária no momento em que a controvérsia hussita se tornava mais acesa. João discutiu com vários opo-sitores, recebendo nestas disputas mais insultos que argumentações objetivas. Quando a sua humildade e a sua paciência eram postas à prova, sem perder a costumeira serenidade de espírito, se limitava a responder: “Graças a Deus!”
Na qualidade de preceptor dos príncipes da Casa real polonesa, às vezes não podia se subtrair à participação de alguma festa mundana. Um dia se apresentou a um banquete com roupas humildes e um doméstico o pôs porta afora. João foi se trocar e voltou ao lugar onde se dava a recepção. Desta vez pôde entrar, mas durante o almoço um servente desastrado esvaziou um copo nas suas vestes. João sorriu afirmando: “Está certo que também a minha roupa tenha a sua parte, foi graças a ela que pude entrar aqui”.
Tanto nas pequenas como nas grandes adversidades, João teve sempre em mira algo de bem superior ao prestígio, à carreira e ao bem-estar materiais: “Mais para o alto!”, repetia frequentemente querendo exprimir com este lema o seu programa de vida ascética. Ele se distinguiu sobretudo pela caridade evangélica, com uma marca claramente franciscana.
Durante uma de suas peregrinações a Roma, a diligência em que viajava foi assaltada e depredada por um grupo de bandidos, que infestavam os arredores de Roma. Também João foi roubado mas percebendo que no fundo de um bolso tinha ficado uma moeda de prata, correu atrás dos bandidos, dizendo: “Vocês esqueceram esta”. O biógrafo, que conta o episódio, afirma que os bandidos, comovidos, restituíram todo o dinheiro do assalto. Morreu em Cracóvia, com a idade de oitenta e três anos, na noite de Natal de 1473 e foi canonizado em 1767. A memória do santo, celebrada a 20 de outubro, foi agora trazida para mais perto da data de sua morte.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini